parei para pensar! “STREET FOOD ÁSIA”: NEM SÓ DE DRAMAS VIVE UMA COREANA DE TAUBATÉ
*Esse texto contém spoiler moderado do documentário.
Sou apaixonada por comida. Não apenas o ato de comer mas a cultura e o ritual envolvido na preparação e a história do prato. Então assim que comecei a ver dramas coreanos, a comida deles me chamou atenção.
No drama “My Mister”, que foi meu primeiro drama (ressalto aqui que foi o melhor drama que já vi), a mãe do protagonista faz um ensopado de kimchi¹ e reúne a família toda em volta desse prato. Essa cena me marcou. Não apenas porque a matriarca da família tinha o poder de reunir os filhos e as noras atrás de uma panela, mas, porque o ritual de preparação até o de servir a comida coreana é muito interessante.
Em seguida comecei a pesquisar sobre o assunto, buscar receitas, visitar restaurantes e lojinhas de produtos asiáticos. Foi quando encontrei na Netflix, o documentário Street Food Ásia.
Poderia ser apenas um documentário com pratos bonitos e muita água na boca, mas me deparei com uma proposta totalmente diferente. Esperava ver pratos saborosos, ingredientes e preparações quando o documentário mostra também a vida e os desafios para uma mulher coreana buscando seu sustento vendendo comida.
Dos mesmos produtores de “Chef’s Table”, o documentário mostra a vida de quem trabalha nos mercados populares vendendo comida típica de rua. No episódio 8, mostram Seul e o mercado Gwangjang.
Diferente dos documentários culinários que vi, não mostram chefes estrelados e sim heróis locais, gente como a gente, que fazem o melhor no seu trabalho a fim de sustentar sua família e viver com dignidade.
Como não podemos provar nem cheirar a comida, os produtores da Netflix utilizam de som e vídeo para nos deixar com água na boca, vendo as mãos habilidosas de uma mulher abrindo a massa do macarrão com agilidade ou um homem aquecendo óleo em uma wok fumegante.
O documentário começa com Cho Yon Soon, a entrevistada principal. Uma mulher sorridente e encantadora.
Logo no início vemos a senhora cuidando do rosto, usando maquiagem. Ela se arruma antes de ir trabalhar. Lembro que isso chamou a atenção da minha mãe, provavelmente porque elas devem ter a mesma idade, mas a mulher coreana reflete como a aparência é importante para a sociedade em que vive, fazendo esse ritual de beleza.
Quando ela diz que tinha muito medo quanto o telefone tocava a noite, visto que só agiotas ligam nesses horários, conseguimos entender porque ela trabalhou tanto. Ela dá detalhes sobre essa dívida tão pesada que ela teve que pagar.
Os desafios de servir comida em um mercado tão grande, a concorrência e a inveja dos outros vendedores são apenas alguns detalhes desse documentário.
Outras pessoas são entrevistadas e o cotidiano do mercado é mostrado por diferentes pontos de vista. A dureza desse trabalho, realizado na maioria das vezes por mulheres e a necessidade de inovação sem perder a tradição é exibida com muita qualidade e muita empatia.
Aos amantes de dramas asiáticos e da boa comida, Street Food: Ásia é uma boa pedida.
Lembrando que a série documental passa por vários países, da Índia até a Tailândia, sempre protagonizando quem faz a comida e a vende nas ruas. É como visitar esses lugares, mesmo que brevemente e conhecer a cultura que levou muitos anos para se construir.
A série encontra-se disponível na Netflix.
Dica: Não assista de estômago vazio!
1. O kimchi-jjigae ou kimchi stew é um jjigae, ou cozido coreano, feito com kimchi e outros ingredientes, como cebolinha, cebola, tofu picado, carne de porco, atum e frutos do mar. É um dos jjigae (ensopados) mais comuns na Coréia.
