Eu fiquei pensando, do porquê de tantos dorameiros romantizarem dramas com relacionamentos ou atitudes abusivas, e pude perceber que isso nos é condicionado automaticamente e muitas vezes nem percebemos.
Eu estava escutando a playlist do Safadão e ficava passando todas as músicas pensando que ele só havia lançado música “chata”, aí finalmente cai em uma das antigas chamada A Dama e o Vagabundo, e na hora pensei: “finalmente uma música boa!”.
“Eu apronto ela perdoa eu vou pegando todo mundo, nessa história ela é a dama e eu sou o vagabundo” me veio a ideia de colocar essa música na OST de Taubaté no drama The World Of The Married, no relacionamento da Ye Ri com Je Hyuk, ele a trai o tempo inteiro e ela perdoa devido já está condicionada a isso. Na mesma hora eu me senti mal, isso não é engraçado e nem de se exaltar, eu fiquei tão mal por essa personagem, e se fosse só algo de ficção ou cantado em uma música, poderia passar batido, mas pensei quantas pessoas estão condicionadas a esse tipo de relacionamento porque acha que não pode viver sem a outra, e nisso muitos feminicídios e homicídios acontecem. Depois dessa minha epifania, eu não consegui escutar mais nem um segundo dessa música, eu fiquei com vergonha de mim mesma e me sentindo mal.
Então me veio no pensamento, algumas músicas que eu costumava escutar e achava normal, e cantava a todos pulmões, mas analisando a letra pude perceber que não é nem um pouco legal e saudável de se ouvir.
“Não ligue se eu lhe perguntar, nem vá se estressar se eu quiser saber, com quem, aonde você tá, que hora vai voltar e o que vai fazer. Não tô pegando no seu pé é que quando a gente quer a gente vai à luta, mas não desligue o celular, eu vou te rastrear Porque quem ama, cuida.” Eu cantava essa música berrando e achava normal, mas vocês conseguem perceber o quanto ela é doentia? Quantos dramas já não vimos que tem uma pessoa sufocada em um relacionamento e que sempre pensa que isso é cuidado e amor, e quem ama faz desse jeito? E o próprio roteiro nos condiciona a pensar que isso é realmente romântico, tanto que defendemos com unhas e dentes os atos daquele personagem.
Henrique e Juliano amo vocês, mas a música Vidinha de Balada é extremamente agressiva! “Vai namorar comigo, sim! Vai por mim, igual nós dois não tem, se reclamar cê vai casar também com comunhão de bens, seu coração é meu e o meu é seu também”.

É de perder vista os dramas que retratam esse tipo de atitude, personagens que vão pra cima de maneira agressiva e diz que a outra pessoa tem que gostar, se chega ao extremo de atitudes violenta, beijo a força, entre outras coisas, e estamos lá aplaudindo e achando fofinho, “Ah, ele(a) aprendeu a amar e não sabia demonstrar seus sentimentos e por isso agiu assim”, essa é a justificativa que damos.
Acredito que a maioria conhece a música Propaganda de Jorge e Mateus, vou colocar só um trecho dela aqui “Tá doido que eu vou fazer propaganda de você, Isso não é medo de te perder, amor é pavor, é pavor”.

Mas o início da música é basicamente a pessoa escrachando a mulher, falando que cozinha mal, que ronca, não faz as tarefas de casa direito, mas aí vem a desculpa, ele só fala isso para os outros com a desculpa de não querer perder a pessoa. Aí eu me pergunto, qual a necessidade de você rebaixar a pessoa que você ama a esse nível? Mas não é só a música que retrata isso, dramas também, e o pior, a vida real! Pessoas que denigrem o seu parceiro na frente dos outros e por trás diz que ama. E é assustador como a gente canta esse tipo de coisa como se fosse a coisa mais natural do mundo. Levanta a mão quem já viu dramas assim, maridos falando mal da esposa para amigos, fazendo chacota e quando chega em casa vai comer a comida da qual falou mal e vai vestir a camisa que falou que ela não sabia passar. Isso acontece nos dois casos, homem e mulher, as duas partes podem ser extremamente abusivas em um relacionamento.
Não citei nome de dramas, quero fazer vocês pensarem os dramas que assistiram e identificam os pontos que falei aqui.
Só citei algumas músicas, mas tem várias que já ouvi e muitas que eu não devo nem saber a existência. A minha intenção com esse texto foi mostrar como reproduzimos esse tipo de pensamento e nem percebemos, e talvez seja por isso que não sabemos julgar muitos dramas que tem esses tipos de situações absurdas. Esses pensamentos estão tão enraizados em nossa sociedade, que levamos como normal, e até romantizamos, já que ouvimos isso em músicas dos nossos artistas favoritos. Mas não é, são comportamentos que temos que lutar para que não seja mais vistos como normal.
O que eu faço quando essas músicas começam a tocar? Eu mudo, eu não me sinto bem escutando, você pode pensar que é muito drástico, mas é como a forma que eu encontrei para não colaborar com esse tipo de pensamento.
Você pode pensar “O mundo está tão chato, tudo vira militância”, mas quero pensar que, as pessoas estão ficando mais conscientes daquilo que consomem e não aceitam tudo o que é proposto a elas. E eu espero sinceramente que os artistas que tem grande influência na nossa sociedade, mudem suas formas de se expressar e propagar esses tipos de comportamento e que a cada dia mais pessoas tenham consciência de que isso não é bonitinho e fofo, mas sim errado e abusivo.
Por hoje é só pessoal, mas quero saber de vocês, que música vocês não gostam de ouvir por que acham que não passa uma mensagem boa?
